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CONSELHO BÍBLICO

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Charles D. Hodges. Depressão e transtorno bipolar

Ajuda e esperança para o enfrentamento eficaz

Se quisermos nos dirigir sabiamente aos problemas que estão “sob os holofotes” em nossos dias, precisaremos de um maior entendimento sobre a depressão, uma dor com que muitos lutam. Dr. Charles Hodges ajuda-nos com seu livro Depressão e transtorno bipolar.

 

Quando enfrentam a depressão, as pessoas sofrem emocionalmente, e a dor que sentem se manifesta em cada extremidade de sua vida, afetando todos que as conhecem e amam. […] dor e sofrimento são reais e as pessoas precisam de ajuda. (p. 21)

Movido por uma preocupação com o crescimento de casos diagnosticados como depressão e transtorno bipolar, ele escreve do ponto de vista de médico experiente e terapeuta de família licenciado, e também como conselheiro bíblico. Em Depressão e transtorno bipolar, Dr. Hodges usa exemplos da Bíblia, bem como estudos de caso extraídos de sua prática profissional, que nos permitem entrar na vida de pessoas reais, com problemas reais.

Depressão: diagnóstico e tratamento
Nos cinco primeiros capítulos, como médico, o autor resume a história do diagnóstico e tratamento da depressão, esclarece o significado dos termos usados para identificar os transtornos do humor, e também cita pesquisas científicas e dados estatísticos que revelam o quadro atual: nossa sociedade diagnostica e trata a depressão confundindo-a cada vez mais com uma “tristeza natural”.

Nos últimos vinte anos, tem havido um maior esforço para informar as pessoas sobre depressão. O objetivo principal deste empenho é mostrar que depressão e transtornos do humor são problemas médicos e, por isso, requerem tratamento médico. Hoje a maioria das pessoas, quando se sente deprimida, corre ao médico em busca de uma solução médica. (p.21)

Apesar das boas intenções e do esforço dos pesquisadores, o diagnóstico e o tratamento da depressão continuam baseados em comportamentos observados e informações compartilhadas pelo paciente, e em teorias não comprovadas cientificamente, conforme mostram os artigos acadêmicos e os estudos de caso, todos devidamente documentados. Na ausência de condições com patologia definida por exames laboratoriais e de imagem (alterações celulares estruturais e funcionais), o autor expressa sua frustração com o fato de que a depressão continua a ser um diagnóstico subjetivo, orientado pela descrição dos sintomas classificados no Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, conhecido como DSM.

Seria tão prático sermos capazes de fazer um teste que trouxesse alívio para nosso fardo. Mas esse teste não existe. De fato, não há testes de laboratório ou de raio-X que possam diagnosticar a depressão (p. 24). 

A situação atual é que “sem uma maneira de se fazer um diagnóstico confiável, os médicos não sabem exatamente o que estão tratando” (p. 29). De sua parte, “o paciente se arrisca a receber um diagnóstico que pode ser impreciso, levando-o a um tratamento que não o ajudará” (p. 31). Embora se tenha depositado muitas esperanças na teoria do desequilíbrio químico, ela não é sustentada por provas científicas e, após meia década de investimentos, ela vem sendo lentamente abandonada pela comunidade médica (p. 46). Dr. Hodges cita vários estudos que mostram que placebos foram tão eficazes, se não mais, que os antidepressivos (p. 48-9). Nestes casos, a esperança de alívio depositada na medicação parece ser o que está por trás da eficácia constatada e “seria uma boa ideia considerar por um momento o papel que a esperança representa para a medicina” (p. 50).

A relação entre a esperança e a medicina, entre a religião e a medicina, vem despertando grande interesse e este é o ponto que leva Dr. Hodges a iniciar sua consideração sobre a esperança que a Bíblia oferece para aqueles que lutam com os chamados transtornos do humor.

Tristeza e esperança
A segunda metade de Depressão e transtorno bipolar examina as alterações do humor do ponto de vista bíblico e a esperança que Deus oferece por meio da Sua Palavra. As perda e as adversidades fazem parte da vida, e deparar-se com elas provoca tristeza – uma tristeza normal, que pode variar bastante de intensidade conforme as circunstâncias e as pessoas, e que as pesquisas apontam estar presente em cerca de noventa por cento dos casos identificados como depressão. O autor não ignora que para cerca de dez por cento das pessoas afetadas pela depressão a causa parece não estar clara se a buscarmos em adversidades e problemas da vida.

Geralmente me perguntam se eu creio que os dez por cento que têm uma tristeza inexplicável podem ser considerados doentes. A resposta que dou é: Eu não sei. Ninguém sabe. Ninguém, seja na medicina, psicologia ou aconselhamento bíblico deve render-se ao argumento prolongado de que a tristeza inexplicada é uma doença. […] A menos que tenhamos uma explicação patológica para os dez por cento restantes, nossa melhor resposta será “Eu nãos sei”. E devemos continuar a oferecer esperança, da verdade das Escrituras, às pessoas com problemas de humor (p. 71).

Dr. Hodges aponta-nos para algo além da medicina, ainda limitada em seus diagnósticos e tratamentos quando o assunto é depressão. Ele nos aponta para algo além das psicoterapias baseadas em teorias formuladas por homens. Mergulhando em textos bíblicos, ele nos aponta para o evangelho da graça que se dirige à tristeza e dá esperança segura. Deus preocupa-se profundamente com aqueles que estão tristes. Deus usa as dificuldades da vida como ferramentas para nos testar e fortalecer como parte de Seu plano de amor para nos fazer mais parecidos com Cristo. Há lugar, então, para uma “terapia” que corrige o nosso foco para ver a tristeza não mais como uma inconveniência a evitar, mas como sinal para nos conduzir à verdadeira adoração a Deus e obediência prática  em amor.

A tristeza segundo Deus conduz a mudanças na perspectiva de nossa mente e nas prioridades do nosso coração. […] Na vida do cristão, esta mudança se dá pelo poder da graça de Deus. Somos salvos pela graça, e vivemos pela graça. (p. 155-6)

O transtorno bipolar
Nos capítulos 14 e 15, o autor traça a linha que vai da depressão aos tipos de transtorno bipolar apresentados no DSM. Servindo-se de exemplos para facilitar a compreensão, ele defende que boa parte das pessoas diagnosticadas com transtorno bipolar II sofrem de tristeza normal ou simplesmente de efeitos da medicação prescrita para a depressão.

Uma percentagem pequena de pessoas, geralmente diagnosticas com transtorno bipolar I, realmente sofre com um transtorno incapacitante e sem causa identificada, e se beneficia de medicação adequada. Algumas vezes, estas pessoas podem necessitar até mesmo de hospitalização para lhes prover proteção, além do papel importante dos irmãos em Cristo como instrumentos de Deus em sua vida (p. 177).

A importância do tratamento adequado
Se por um lado o autor é muito claro em mostrar a insustentabilidade científica da doença mental associada à teoria do desequilíbrio químico cerebral, por outro lado ele alerta para o fato de que algumas doenças com patologia definida vêm acompanhadas de transtornos do humor. O Apêndice B oferece um panorama das doenças que podem afetar o humor e que são diagnosticáveis por meio de exames laboratoriais e de imagem.

É muito importante que essas doenças sejam diagnosticas e tratadas adequadamente. Ao mesmo tempo, há vários problemas sérios na vida que afetam nosso estado de humor, mas que nada têm a ver com doenças. Distinguir as causas médicas e não médicas de nosso humor depressivo pode até salvar vidas em alguns casos. (p. 37)

Em momento nenhum Depressão e transtorno bipolar considera que a alteração do humor seja uma invenção e que a tristeza deve ser simplesmente “superada”, tampouco sugere que a medicação seja sempre inútil no tratamento. Embora alerte para os inúmeros casos em que a medicação é desnecessariamente aplicada, o autor admite que existem casos em que ela representa um benefício prático para o paciente e para aqueles com quem ele convivem, e deve ser aplicada e mantida atentamente sob supervisão médica. Um ponto muito importante, bem destacado desde o início do livro, é que “nenhum paciente deve parar com uma medicação ou mudar a dose sem primeiro consultar seu médico”. (p. 17)

Uma leitura que vale a pena
O corpo humano é uma obra sem par do Criador, e a medicina certamente tem pela frente ainda muito trabalho investigativo. Em Depressão e transtorno bipolar, Dr. Hodges trabalha o assunto com conhecimento, equilíbrio, sabedoria e muita compaixão. Ele constrói seu argumento com clareza e desafia o leitor a uma nova visão sobre a tristeza. Não é um livro longo nem escrito em linguagem técnica médica, embora não se trate de uma abordagem simplista. É uma leitura recomendada para os conselheiros, amigos e familiares de pessoas deprimidas.

Apreciamos muito a iniciativa da Editora Peregrino de trazer para os leitores de língua portuguesa o livro do Dr. Hodges. Na medida do possível, porém, recomendamos a leitura do original – Good mood, bad mood.  Em alguns pontos a tradução ainda necessita de acertos para permitir que a versão brasileira reflita com precisão o pensamento original do autor e sua competência. Entre outras ocorrências, destacamos o texto da página 24, onde Dr. Hodges descreve a prática adotada em consultório: “Se o teste der positivo, o paciente será tratado com penicilina por cerca de dez dias. Negativo, provavelmente o paciente contraiu um vírus e precisa de um antibiótico”. O correto de acordo com o original é “e não precisa de um antibiótico”.[1] Mais adiante, para “Pesquisadores continuam a buscar a identificação de uma causa psicológica para a depressão e devemos nos alegrar por isto”, o original diz que “Médicos pesquisadores continuam a buscar a identificação de uma causa fisiológica”.[2]

Este é o desafio final deixado por Dr. Hodges à Igreja:

Se for verdade que noventa por cento da depressão de nossos dias é na verdade tristeza decorrente de perdas, e que a “terapia de conversas” (terapia que enfatiza a conversação entre terapeuta e paciente) é tão eficaz quanto a medicação, então o aconselhamento bíblico encontra-se numa posição de destaque como auxiliador. (p. 180)

Irmãos em Cristo, conhecedores da Palavra de Deus, compassivos e preparados para aconselhar biblicamente não só podem como devem ministrar graciosamente a Palavra que “é perfeita e restaura a alma” (Sl 19.7).

Ficha Técnica
Autor: Charles D. Hodges
Título: Depressão e transtorno bipolar: ajuda e esperança para o enfrentamento eficaz
Título original: Good mood, bad mood 
Editora: Peregrino
Páginas: 191
Data de publicação: 2015

Charles D. Hodges é médico formado pela Indiana University School of Medicine e atua na cidade de Indianapolis.  Além da prática profissional, Dr. Hodges tem formação teológica e dedica-se ao aconselhamento bíblico e ao ensino, atuando com Faith Biblical Counseling Ministry, e em conferências no Brasil.  É membro da Association of Certified Biblical Counseling e do conselho da Biblical Counseling Coalition.

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