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CONSELHO BÍBLICO

Conexão - Informação e Formação para a Transformação

David Powlison. Uma nova visão

Resenha por Robert Kellemen

“Um modelo abrangente e centrado em Cristo para a construção de uma teologia bíblica do aconselhamento com base em uma psicologia bíblica da natureza humana.” Com estas palavras Bob Kellemen dá início à resenha de Uma Nova Visão publicada em  Discerning Reader.

O livro está disponível em português e é uma leitura recomendada para todos quantos querem conhecer mais sobre o aconselhamento bíblico. A resenha escrita por Kellemen cumpre seu papel de despertar nosso interesse por conferir a mensagem de Uma Nova Visão.

David Powlison é um dos principais teólogos atuantes no movimento do aconselhamento bíblico em nossos dias. Uma Nova Visão reúne artigos previamente escritos (durante um período de duas décadas) por Powlison, todos centrados em torno do tema de uma teologia do aconselhamento bíblico.

Pensar os pensamentos de Deus à maneira de Deus

Powlison define o aconselhamento de maneira muito prática como “conversas que têm a intenção de ajudar”. Seu objetivo em Uma Nova Visão é equipar os leitores para que olhem para estas conversas espirituais pela perspectiva de Deus − a “nova visão” do título. Passamos a ver cada aspecto da vida e do ministério de forma inteiramente diferente quando os olhos de Deus se tornam nossa lente.

O modelo comum e muito útil da criação, queda e redenção é utilizado por Powlison para expor a visão bíblica acerca das pessoas, dos problemas e das soluções. É por meio desta estrutura conceitual tríplice que Uma Nova Visão procura ajudar a Igreja no cuidado e cura das almas. A premissa é simples e profunda: Deus tem algo a dizer sobre o  aconselhamento? A resposta de Powlison é afirmativa: o olhar de Deus apreende as milhares de questões ligadas ao aconselhamento. Uma Nova Visão aspira a escutar bem, olhar com atenção, pensar com afinco dentro do modelo do olhar de Deus.

Abrindo os Olhos Cegos

Powlison organiza seus pensamentos em duas partes: “A Escritura abre olhos cegos” e “Reinterpretando a Vida”. Na primeira parte, os leitores desfrutam de uma teologia bíblica do aconselhamento a partir de três livros das Escrituras: Efésios, Salmos e Lucas. Na segunda parte, os leitores tiram proveito de uma psicologia bíblica do aconselhamento: qual é a essência da natureza humana e por que fazemos o que fazemos?

Nos vários capítulos sobre Efésios, Powlison procura compreender como Paulo usa a Escritura e, a exemplo de Paulo, como nós devemos construir uma teologia prática. Em seguida, ele explora a visão de Paulo acerca de Deus e da diferença poderosa que a imagem que temos de Deus deve fazer em nossa vidas e ministérios. No capítulo final sobre Efésios, Powlison usa Efésios 5.21 a 6.4 como modelo para a compreensão das relações humanas. Ao longo desta secção, Powlison constrói com perícia uma teologia pastoral para pessoas reais, que têm problemas comuns na vida real, e um Deus real com respostas reais.

Por vezes, o aconselhamento bíblico tem sido lento no enfatizar o sofrimento, concentrando-se quase que exclusivamente no pecado. É encorajador, portanto, ver Powlison investir dois capítulos importantes para trabalhar o porquê e o como do sofrimento, utilizando os Salmos como seu guia. Estes capítulos estabelecem uma teologia bíblica do sofrimento, útil tanto para quem passa pelo sofrimento como para quem  é chamado a se colocar ao lado do sofredor e ajudá-lo.

Seu capítulo sobre Lucas é um sermão sobre o sermão de Jesus a respeito da preocupação. O Powlison faz aqui reflete seu inteiro propósito: ele toma um trecho da Escritura e não só o aplica, mas exemplifica como podemos aplicá-lo no aconselhamento bíblico.

Para os leitores que querem uma teologia do aconselhamento bíblico sistemática e detalhada, Uma Nova Visão pode ficar um pouco aquém do esperado. Este não é o propósito Powlison. No entanto, para leitores que querem uma excelente introdução sobre com ver e usar as Escrituras para começar a desenvolver um modelo bíblico de aconselhamento, Uma Nova Visão é um excelente primeiro passo.

Qual é a essência da natureza humana: por que fazemos o que fazemos?

Após compartilhar um modelo básico para a construção de uma teologia bíblica do aconselhamento, Powlison mostra agora como construir uma psicologia bíblica − uma visão bíblica da “teoria da personalidade”. Na prática, ele faz e responde, a partir da perspectiva do Criador, a pergunta “O que nos motiva?” O valor desta seção consiste em Powlison insistir na construção de uma visão da natureza humana não coram anthropos(pela perspectiva da humanidade), mas coram Theos (pela perspectiva de Deus). Podemos entender as pessoas por meio de pessoas ou podemos entender as pessoas por meio de Deus. Powlison escolhe justamente compreender a criatura não através da criatura, mas através do Criador.

Estes nove capítulos abordam, de forma panorâmica, quase todas as questões nas quais o conselheiro bíblico precisa refletir para o desenvolvimento de uma abordagem cristã da natureza humana. Em cada caso, Powlison mostra as explicações de acordo com a visão do mundo e então compartilha a visão de Deus, sempre com um olhar perspicaz para aplicações práticas e implicações ministeriais.

O capítulo 7 mostra o grande quadro da teoria da motivação humana. Ele examina o “raio-X” de Deus − aquilo que  Deus diz quando Ele observa por que agimos como agimos. As 35 perguntas raios-X fazem jus ao valo do livro − práticas, teológicas, psicológicas, motivacionais, persuasivas. Os capítulos 8 e 9 apresentam uma teologia do desejo. Novamente, o aconselhamento bíblico é visto às vezes (e talvez seja um pouco culpado por isso) como um movimento que não enfatiza os desejos e anseios. Estes dois capítulos percorrem um longo caminho em direção resgatando a importância e o lugar que a Bíblia atribui aos desejos, corretamente entendidos, na vida cristã. Powlison demonstra com precisão que os desejos e anseios são bons e são parte essencial do plano de Deus para o homem, mas que por causa da queda temos sempre de combater a tentação de orientar os nossos desejos para longe de Deus.

Longe de ser um teólogo utópico, Powlison mostra a praticidade de uma teologia do desejo/anseio no capítulo 10, quando trabalha a pergunta “E se você não foi amado pelo seu pai”. Como o conselheiro cristão lida com o desejo legítimo, mas insatisfeito (cf. Tg 4.1-4), de receber o amor paterno? E em seu capítulo final, Powlison procura abordar as questões complexas que envolvem a “biopsiquiatria”: quais são os papeis do corpo e da mente e qual a relação entre eles? Powlison, sem se estender demasiadamente, oferece uma abordagem diferenciada. Por exemplo, ele resume e apóia a regra áurea histórica do aconselhamento bíblico: “Consulte um médico para o seu corpo. Consulte o seu pastor, outros líderes espirituais e amigos sábios para o seu coração, sua alma, sua mente, seu estilo de vida e sua maneira de lidar com o sofrimento”. Mas talvez porque a questão mente/corpo é tão complexa na interação funcional concebida por Deus, este capítulo pode parecer, à vezes, um pouco “profundo” de menos e “conclusivo” demais. A possível inter-relação entre mente/corpo e cérebro/alma pode parecer, às vezes, ligeiramente minimizada. Dito isto, Powlison reconhece a ambiguidade potencial e incentiva que o conselheiro bíblico se mantenha a par da pesquisa médica confiável.

Viver bem a vida

Uma Nova Visão é um livro sobre viver bem a vida para a glória de Deus. É um livro surpreendentemente coeso, visto que reúne vários artigos escritos ao longo de quase duas décadas. Ele fornece uma amostra consistente de como construir uma abordagem bíblica,  que honre e siga a Deus, de como ajudar as pessoas. Ele fornece uma bússola, um GPS, um indicador de direção, um mapa que orienta sem ser uma camisa de força para seguir cegamente.

O olhar de Cristo, de fato, molda a interação entre pessoas de verdade dentro de um mundo real.

Ficha Técnica
Autor: David A. Powlison
Título:  Uma nova visão: o aconselhamento e a condição humana através das lentes da Escritura
Título original: Seeing with new eyes
Editora: Cultura Cristã
255 páginas
Data de publicação: 2010

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