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CONSELHO BÍBLICO

Conexão - Informação e Formação para a Transformação

Kevin DeYoung. Super ocupado

Um livro (misericordiosamente) pequeno sobre um problema (realmente) grande

Resenha por Tim Challies – Publicada em Biblical Counseling Coalition

Temos uma relação de amor/ódio com estarmos ocupados: quando não estamos nos vangloriando por estar ocupados, nós pedimos desculpas por não estar ocupados, e quando não estamos sobrecarregados de ocupação, queremos estar mais ocupados. Nós odiamos aquilo que correria provoca em nossa vida, como ela nos impede de estar com amigos e familiares, e como ela distorce as nossas prioridades. Por outro lado, nós amamos o fato de que ela nos faz parecer importantes, como se estamos ocupados provasse aos outros o nosso valor.

Em Super ocupado: um livro (misericordiosamente) pequeno sobre um problema (realmente) grande, Kevin DeYoung procura dar um diagnóstico sobre estar ocupado e ajuda-nos a encontrar uma maneira melhor, mais gratificante e mais sustentável de caminhar ao longo da vida. Ele começa por avisar-nos de três perigos graves que a ocupação pode causar: estar ocupado de mais pode estragar a nossa alegria, roubar nosso coração e encobrir a podridão de nossa alma.

O coração do livro constitui-se de sete capítulos curtos, que oferecem sete diagnósticos para a nossa ocupação. Kevin DeYoung mostra como o orgulho pode nos tornar e manter ocupados, e como o orgulho pode se manifestar no desejo de agradar pessoas e em um desejo desmedido de possuir mais. Ele sugere que muitas pessoas não ordenam devidamente suas prioridades e, portanto, passam a vida ocupadas com fazer coisas que não deveriam estar fazendo de modo nenhum. O autor ainda mostra que muitos pais correm freneticamente com seus filhos de uma atividade para outra, acreditando que, a menos que satisfaçam todas as exigências de seus filhos, podem perdê-los. Ele vai à Bíblia para mostrar a importância tanto de descanso quanto de ritmo, apontando que somos criaturas frágeis, devemos aceitar a nossa fraqueza e, após ter feito isso, devemos ter como prioridade estabelecer em nossa vida momentos para descanso.

Apreciei especialmente o penúltimo capítulo, onde DeYoung observa que a vida não foi feita para ser fácil. Temos muitas coisas para fazer e uma quantidade limitada de tempo para fazê-lo. Somos prejudicados pelo pecado e pelos os efeitos do pecado que nos atingem de todos os lados, o que significa que em grande parte da vida, e talvez até mesmo na maior parte dos dias, estaremos mais ocupados do que gostaríamos de estar. Esta é mais uma razão para ansiarmos pelo céu. Quanto mais esperamos ou exigimos uma vida fácil aqui e agora, mais difícil se tornará a nossa ocupação. Simplificando, “A razão pela qual estamos ocupados é porque fomos criados para nos ocuparmos”.

Quando o diagnóstico está completo, resta apenas um capítulo, e aqui é exatamente onde acredito que muitos leitores ficarão decepcionados. Quando falo com um autor sobre um livro novo, muitas vezes eu gostaria de lhe perguntar: “Este é um livro que você viveu?”. Neste caso de Super ocupado, KevinDeYoung dá a sua resposta nas páginas iniciais, onde ele admite que ele pode ser a melhor pessoa para escrever o livro, ou a pior.

Alguns livros foram escritos porque o autor sabe alguma coisa que as pessoas precisam saber. Outros porque o autor viu coisas que outras pessoas precisam ver. Eu estou escrevendo para entender coisas que não sei, e trabalhar em mudança que ainda não consegui ver.

O tema ” junte-se a mim na viagem” prevalece, e ele acaba por ser tanto uma força quanto uma fraqueza do livro. À medida que Kevin DeYoung olha para a própria vida, ele faz um trabalho bom e útil de diagnóstico do coração da ocupação, já que ele está vivenciando o problema exatamente como você e eu. Ele faz um claro apelo para que vejamos nossa ocupação como uma escolha, ou um conjunto de escolhas, e a vejamos como uma escolha repleta de significado espiritual.

No capítulo final, ele chama os cristãos a manter seu relacionamento com Cristo – sentar aos pés de Jesus – principalmente nos momentos de devoção pessoal. Ele considera isso como a uma disciplina absolutamente essencial no meio de uma vida agitada.

E assim o livro termina. Se por um lado Super ocupado é muito útil no diagnóstico, ele é muito light na aplicação prática, presumivelmente porque o próprio autor ainda não praticou o suficiente tais aplicações para poder falar com autoridade. Acredito que há momentos em que isso é bom para permitir que o leitor faça as suas próprias aplicações. Afinal, muitos leitores, e eu entre eles, são propensos a ser preguiçosos e querer ignorar todo o trabalho a ser feito no coração, indo direto para a parte que torna a vida mais fácil.

Meu medo aqui, porém, é que o autor é geralmente quem pode dizer com maior autoridade que todos os demais: “Esta teoria leva a mudanças significativas porque eu já vi isso na minha vida e no meu lar”. Nesse caso, Kevin DeYoung não faz e não pode fazer isso. Nós não recebemos nenhuma garantia de que toda a sua pesquisa e redação tenha mudado sua vida. E se um livro não ajudou o autor, como poderia nos ajudar? No final, parece que ele está tão super ocupado como quando começou, e isso é uma conclusão bastante desalentadora.

Ainda assim, Super ocupado é um bom livro para aquilo a que se propõe. Kevin DeYoung é um escritor talentoso e é sempre uma alegria ler seus livros. Nesse livro, ele coloca em palavras aquilo que já sabemos – estamos mais ocupados do que deveríamos estar e queremos estar. Ele nos dá ferramentas para diagnosticar os problemas específicos do coração que nos conduziram a tal ponto. E ele nos incentiva a começarmos a fazer as mudanças necessárias para viver uma vida com foco nas prioridades melhores e mais elevadas.

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