

I. OS TERMOS DO MANDAMENTO
Vejamos o que consta no quarto mandamento.
1 - O sábado deve ser “lembrado” (v. 8). O vocábulo usado por Moisés na Bíblia Hebraica tem um sentido muito mais extenso do que meramente recordar esporadicamente. Trata-se de estabelecer um “memorial” ou “manter na lembrança” — algo que não podemos esquecer.
2- O sábado deve ser “santificado” (v. 8). A ideia da Escritura é separar, consagrar ou tratar como sagrado. A base para essa santificação é o registro da Criação; Deus trabalhou seis dias e descansou no sétimo (v. 11).
3 - O modo de praticar o mandamento é interromper o trabalho. Simples assim.
II. A RESSONÂNCIA DO QUARTO MANDAMENTO NO ANTIGO TESTAMENTO
Em Êxodo 23.12 (cf. Lv 23.3), a ordem para guardar o sábado é ratificada com uma nota importante: tanto pessoas quanto animais precisam de um dia para “tomar alento”, ou seja, revigorar-se para uma nova semana de trabalho.
Êxodo 31.12-18 apresenta o sábado como “sinal” da relação do povo com o Deus que santifica (v. 13). A solenidade desse repouso é grande; quem desconsiderá-lo deve morrer (v. 14-15). O sábado deve ser “guardado” como “aliança perpétua” em cada geração (v. 16). Em outro lugar, o preceito é repetido; a quebra do sábado deve ser punida com morte e sequer os fogões podem funcionar no dia de descanso (Êx 35.2-3).
Em Levítico 16.31, o Dia da Expiação é um “sábado de descanso solene”. Os israelitas tinham de observá-lo em atitude de arrependimento e como “estatuto perpétuo”. Também era no sábado que, como “aliança perpétua”, doze pães eram colocados pelo sacerdote sobre a mesa de ouro do tabernáculo (Lv 24.5-9). Deuteronômio 5.11-15 repete as palavras de Êxodo 20, com um acréscimo: o descanso relaciona-se ao alívio da escravidão sob os egípcios (Dt 5.15).
Toda essa revelação divina acerca do sábado é recebida com ação de graças pelos israelitas piedosos. Os líderes do culto no segundo templo, na época de Neemias, louvaram a Deus, que lhes havia feito conhecer o “santo sábado” (Ne 9.4-6,14). Em Neemias 10.31, o povo fiel a Deus assumiu o compromisso de nada comprar dos comerciantes pagãos neste dia. Em um ato corajoso, em sua segunda fase de liderança em Jerusalém, Neemias restabeleceu a guarda da folga sabática (Ne 13.15-22).
III. A RELEITURA DO QUARTO MANDAMENTO NO NOVO TESTAMENTO
Se na era do AT Deus falou de diversas maneiras “aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1.1-2). Realiza-se em Jesus a expectativa de Ezequiel 46, de um novo templo com ordenanças modificadas.
Em todos os seus ditos e feitos, o Senhor Jesus jamais levantou a bandeira de revogação do quarto mandamento.
Cristo tanto cumpriu quanto atualizou as promessas do AT (Mt 5.17-18; 2Co 1.20). Ele trouxe a novidade do reino, que não foi crida nem abraçada por alguns religiosos de seu tempo (Mc 2.18- 22). De modo enigmático, utilizando uma designação da profecia de Daniel 7.13-14, o Redentor declarou: “Porque o Filho do Homem é senhor do sábado” (Mt 12.8 – grifo meu).
Aos judeus, que talvez se apegassem a uma interpretação literal de Êxodo 31.17, ele ensinou que Deus trabalha todos os dias (Jo 5.16-18 – grifo meu).
Além disso, Jesus acentuou que a guarda do Dia do Senhor – bem como todos os regulamentos religiosos de Israel “ deve ir muito além do apego a regras legalistas; o sábado é para abençoar o próximo; é instituição divina para benefício do homem (Mt 12.1-14; Mc 2.27).
Por fim, o sábado é para se aproximar de Deus (nosso Senhor ia à sinagoga aos sábados para prestar culto, além de ler e ensinar as Sagradas Escrituras – Mc 1.21; Lc 4.16).
Duas coisas são ainda dignas de nota.
Primeiro, o convite de Jesus ao desfrute do verdadeiro descanso – um repouso disponível, não em um dia específico, mas na comunhão com ele mesmo (Mt 11.28- 30).
Em segundo lugar, percebemos a menção da “consumação” do trabalho de Jesus em uma sexta-feira, o descanso de seu corpo na sepultura no sábado e sua ressurreição no domingo (Jo 19.30-31,38- 42; 20.1,19).
Esses dados bíblicos preparam o terreno para a mudança completada no restante do NT.
Em Atos, é no sábado que os discípulos testemunham de Cristo nas sinagogas ou buscam lugar propício para a oração (At 13.42,44; 16.13). Pontua-se uma transição. Os irmãos se reúnem para “partir o pão” no domingo (At 20.7). A novidade trazida pela ressurreição do Senhor toma lugar não apenas na mente e coração dos crentes, mas também no calendário cristão.
As ordenanças do AT são “sombra” do que haveria em Cristo (Cl 2.17). Uma vez que os cristãos desfrutam diretamente de Cristo, eles não podem mais ser julgados “por causa de comida ou bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados” (Cl 2.16).
A entrada no descanso da Terra Prometida, na época do Êxodo, exigiu fé (Hb 3.1-19). Do mesmo modo, necessitamos confiar em Deus hoje, para entrarmos em seu descanso (Hb 4.1-13). Isso é possível somente por causa de Jesus Cristo, “o Filho de Deus” que nos ajuda como “sumo sacerdote que penetrou os céus” (Hb 4.14-16).
O NT define Jesus como a pessoa e o significado apontados pelo sábado.
Nesses termos, o sábado na Criação sinalizava o descanso disponível em Cristo, Senhor da nova criação.
Esse descanso é anunciado no evangelho, assegurado na morte do Redentor na cruz, antecipado em sua ressurreição, no primeiro dia da semana, e aguardado como realização plena na glorificação dos crentes e na consumação (Ap 14.13; 21.1-4; 22.1-5).
CONCLUSÃO
Nenhum legalismo e nenhum antinomianismo.
O legalismo é a noção equivocada de que obtemos a aprovação de Deus por meio da prática de boas obras. O legalista entende que ganha o favor divino obedecendo à lei ou regras da religião. Quanto mais “bonzinhos” ou “encaixados” às exigências religiosas, mais dignos nós somos das bênçãos do Senhor. Por outro lado, qualquer imperfeição de nossa parte nos coloca sob castigo do alto. A relação com Deus deixa de basear-se na graça divina e se torna troca (Rm 4.4-5). Ao invés de libertar e trazer descanso, o legalismo aprisiona a consciência a preceitos humanos (Cl 2.20-22).
A consciência do cristão não pode estar amarrada a doutrinas legalistas. Por isso é rejeitado, por exemplo, o Adventismo do Sétimo Dia. Essa não é uma religião protestante nem evangélica, mas uma seita que anuncia a necessidade de guardar o sábado para salvação. Por isso eles são denominados sabatistas.
O antinomianismo, por sua vez, é outra ideia contrária às Escrituras. Neste caso, apregoa-se que, diante da graça, a lei perde toda utilidade. Desse modo, o cristão salvo pela graça não precisa guardar absolutamente nada.
O sétimo dia do AT é substituído pelo primeiro dia (o domingo da ressurreição). A zelosa observância do descanso permanece sob a égide do evangelho.
O quarto mandamento é reafirmado em pleno processo de descristianização da cultura. A vida é dura e corrida. Somos esmagados por estresse. Pais e filhos não conseguem se encontrar durante a semana. Muitos trabalham até o sábado e sobra apenas o domingo para descansar, passear, divertir-se e visitar familiares. Como exigir que uma família oprimida por tal agenda compareça regularmente aos cultos dominicais de uma igreja?
Não apenas isso. Profissionais de segurança, da área de saúde, de transportes e limpeza pública, comerciantes e comerciários, empreendedores e muitos outros têm de trabalhar inclusive aos domingos.
O fato é que, pouco a pouco, os cristãos se distanciam de um compromisso prático com o quarto mandamento. Também muitos crentes permanecem em suas casas ou passeiam em shopping centers.
A solução para o problema é o entendimento da igreja como comunidade pactual.
Os que se dizem crentes em Cristo, conforme as Sagradas Escrituras, assumem um compromisso com o cumprimento dos mandatos criacionais (espiritual, social e cultural).
O quarto mandamento passa a ser considerado à luz da redenção – os discípulos de Cristo desfrutam dele caminhando com prudência e administrando seu tempo segundo a vontade de Deus (Ef 5.15-17).
Texto Básico: Êxodo 20.8-11; (Deuteronômio 5.12-15) Colossenses 2:9-23
INTRODUÇÃO
Como Batistas guardamos o domingo como o “Dia do Senhor”. Assim como a maioria das Igrejas Cristãs.
Existem quatro posições quanto o Dia do Senhor:
1 - Alguns defendem que é necessário guardar, literalmente, o sétimo dia – o sábado.
2 - Outros afirmam que, devido à nova aliança e uma vez que todos os dias são santos, o crente não deve se preocupar com guardar qualquer dia em particular.
3 – Há os que guardam o domingo como o Dia do Senhor porque creem que após a ressurreição, ele é que deve ser guardado como “santo repouso”.
4 – Ainda há os que aceitam que o domingo é o Dia do Senhor, mas não o guardam, se assemelhando aos não convertidos.
Perserverando no Caminho - O DIA DO SENHOR

